O
TRIPÉ DO
PRECONCEITO: obstáculo à PAZ
O mundo vive, hoje em dia,
assolado por inúmeras crises,
frutos das contradições
históricas que movimentam a
realidade e dificultam a
concretização dos ideais de
fraternidade, amor e paz. Nesse
panorama, inserem-se as próprias
contradições humanas, movidas,
principalmente, por uma nefasta
manifestação - o preconceito -
que, por sua vez, apóia-se num
tripé constituído por três
mitos: a “aparência, a
arrogância e a ignorância”.
Pelo mito da aparência os
homens são induzidos a promover
escolhas dentre seus
semelhantes, aceitando aqueles
cuja presença não os “incomoda”;
são levados a evitar, a excluir
de seu convívio e até mesmo a
combater aqueles que, por algum
motivo, provocam-lhes repulsa,
não se encaixam em seus
paradigmas ideais - modelos
cujos parâmetros foram ditados
por engrenagens vorazes da
História, em visões de mundo
frias, isentas de amor.
Quanto ao mito da arrogância
- esse brota no seio da
Humanidade, dentre aqueles que
se arrogam o direito de se
considerar superiores, mais
fortes, mais poderosos, mais
inteligentes, mais belos, mais
capazes, enfim, que se julgam
merecedores de privilégios,
inclusive de promover o domínio,
a opressão, sobre seus
semelhantes. Na esteira da
arrogância, vicejam infinitas
manifestações negativas, como a
ganância, o orgulho, a
crueldade, a intolerância, o
desamor, que constituem fecundos
canais para infindáveis
manifestações de injustiça e
empecilhos para a paz.
Ambos os mitos – aparência e
arrogância - ao mesmo tempo
apóiam e se sustentam na
ignorância, completando o
tripé do preconceito. Geralmente
é quando se ignoram os
verdadeiros fundamentos de
determinados fenômenos ou o
direito de cada pessoa ser
respeitada em suas convicções,
que se instala o preconceito. O
próprio étimo do termo
“preconceito” já sugere que se
trata de pré-conceber, de
explorar um conceito
preconcebido, ou seja, um
pré-julgamento, algo que tem
grandes chances de se traduzir
em injustiça. Exemplificando,
vale aqui lembrar que estudos da
moderna genética questionaram o
conceito de raça, comprovando
sermos todos igualmente
descendentes de um mesmo povo
ancestral que migrou da África
há milênios, espalhando-se pela
Terra e adquirindo
características físicas
adaptadas às condições do meio,
por necessidade de
sobrevivência. Isso significa
uma pá de cal jogada sobre os
intolerantes que se agarram aos
mitos da aparência e da
arrogância, e que se encontram
atolados na ignorância –
caracterizada, neste caso, por
um lamentável lodaçal.
Oxalá chegue, em breve, o dia em
que, convivendo harmoniosamente,
libertos desse estigma
estratificado e segmentado da
Humanidade, ao sermos
perguntados sobre a que raça
pertencemos, possamos
simplesmente responder: “à raça
humana”; melhor ainda se tornará
o dia em que nem mesmo seja
necessário realizar-se tal
indagação...
Existirá remédio para a
arrogância e a ignorância? Onde
está a solução?
A resposta é simples: está em
cada um de nós. O antídoto para
a ignorância é a educação,
que possibilita a reflexão, o
conhecimento, a busca de se
compreender e respeitar os
direitos humanos. Decorre daí um
antídoto para a arrogância.
Quando o espírito humano se abre
ao diálogo, à compreensão
solidária dos fenômenos que
movem a realidade, torna-se
receptivo para a sensibilização,
a convivência pacífica, a
fraternidade, a experimentação
de quão gratificante e saborosa
é a prática do amor e do bem.
Uma vez superadas a ignorância e
a arrogância, o homem não se
deixará mais escravizar pelo
mundo das aparências o que,
conseqüentemente, o libertará
dos preconceitos e lhe
proporcionará a paz interior.
Tudo depende desse processo de
reflexão, de mudança de atitude
em cada um de nós, de uma
aceitação pacífica mútua e
igualitária, pois -
parafraseando Phil Bosmans -,
“não haverá amor e paz no mundo
enquanto não houver amor e paz
em cada coração humano”.
Utopia?
Creio que não...
Vamos confiar no processo de
evolução moral da Humanidade!
Oriza Martins////