É outono... a
mágica estação do ano em que a natureza revela um especial
esplendor. Calmamente vou adentrando a alameda de plátanos
dourados. Um tapete amarelo-avermelhado espalha-se a meus
pés, por onde sigo pisando calmamente, num vagar calculado,
com o firme propósito de saborear esses momentos de pura e
encantadora magia...
Folhas de
outono...
Nas árvores, nos ares, no
chão.
Folhas de outono
em sua derrareira e incomparável glória, exalando um aroma
adocicado, de flutuante despedida.
Folhas de
outono a cair dolentes, num bailar dourado, esvoaçantes,
ternas, doces, displicentes, espalhando pelos ares pingos
multicores – pálidos, marrons, rubros, nacarados,
cintilantes, diferentes e diversos como os sentimentos
humanos, que transitam numa vasta gama - eterna e densa -
que vai da apatia à paixão intensa.
Prossigo,
relembrando os melancólicos outonos que já vivi...
As diferentes primaveras
que vivenciei – ternas, intensas, fortes, coloridas...
E os verões...
Quantos verões ardentes, sedentos, apaixonantes...
Meu olhar
repousa sobre uma dessas pequeninas folhas de outono, que
insiste em permanecer no ar, como se ainda lhe restasse uma
leve esperança de não esmorecer de vez no chão úmido,
salpicado por centenas de outras folhinhas em decomposição,
já se entregando ao ciclo implacável da natureza.
Da mesma
forma, meu solitário ser, após vivenciar tantos férteis
ciclos da existência humana, sente estar chegando ao
derradeiro outono da vida. E tenta agarrar-se a um fio de
esperança, insistindo em usufruir os derradeiros prazeres
mundanos, como aquela pequenina folha, na esperança de
retardar ao máximo a queda final.
A folhinha,
finalmente, repousa sobre o chão. De repente, não a percebo
mais; ela misturou-se aos infinitos outros pontos amarelos
do chão de outono... entregou-se a seu inevitável destino de
participar do processo de transformação da natureza, para um
dia retornar em alguma paisagem, fazendo-me lembrar que
a vida se
move em ciclos
de fazer e
desfazer,
que
sentimentos arrefecem,
que
ardentes paixões esfriam,
que toda
glória é efêmera...
mas que os
ciclos favorecem
o renascer
da esperança
– e esse,
sim, é duradouro... é eterno
em
todos os corações humanos...
Oriza Martins
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